quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Monteiro Lobato

“– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. 
A gente nasce, isto é, começa a piscar. 
Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. 
Piscar é abrir e fechar os olhos 
– viver é isso.
 É um dorme e acorda, dorme e acorda, 
até que dorme e não acorda mais 
[…] A vida das gentes neste mundo, 
senhor Sabugo, é isso. 
Um rosário de piscados.
 Cada pisco é um dia. 
Pisca e mama,
 pisca e brinca, 
pisca e estuda, 
pisca e ama,
 pisca e cria filhos, 
pisca e geme os reumatismos, 
e por fim pisca pela última vez e morre. 
– E depois que morre?, perguntou o Visconde.
 – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”